“Os chefes são
líderes mais através do exemplo do que através do poder.”
Tácito
A empresa começou por ser, na Idade
Média, uma noção geográfica de simples ajuntamento de pessoas. Já no princípio
do século passado, com a Revolução Industrial, passou a ser percebida como um
conceito físico e de gestão de recursos materiais. Hoje, cada vez mais é
assumida como um conjunto poderoso de técnicas e tecnologias da velha ou da
nova economia. Ao longo desta evolução, porém, a empresa nunca deixou de
constituir, também e necessariamente, uma comunidade de pessoas. E como tal
nunca deixou de ser uma entidade moral.
A empresa como entidade moral é ou
deve ser, em primeiro lugar, o maior denominador comum dos diferentes e
legítimos interesses dos accionistas, dos trabalhadores, do Estado, dos
clientes, da sociedade em geral, dos fornecedores até. Mas deve ser, também,
uma referência de valor na e para a sociedade, um centro de responsabilidade
social. Por outro lado, a empresa tem de ser um espaço de realização nas suas
três componentes: pessoal, cívica e profissional. Finalmente, uma empresa deve
assumir-se como uma escola de conhecimento, uma escola de cultura diferenciada
e própria.
Por tudo isto, e
em meu entender, é cada vez mais adequado afirmar-se que o mercado é um
conjunto de relações entre pessoas, produzindo, consumindo e trocando serviços
e bens. É isso que lhe dá, aliás, uma não negligenciável dimensão moral.
Considero
fundamental que numa empresa ou numa comunidade laboral existam um conjunto de
valores e de saberes, que constituem a sua dimensão ética.
O primeiro dos
valores é o direito-dever. Não é por
acaso que ambas as palavras aparecem associadas com um hífen. Não há direitos
sem deveres e não há deveres sem direitos. Embora normalmente nos lembremos
mais dos direitos do que dos deveres.
Outros valores
essenciais são o carácter, o respeito, a honradez, a coerência (esse recurso
tão escasso às vezes), a sensatez, a sobriedade, a lealdade, a amizade, a
exemplaridade, a equidade, a solidariedade, a autenticidade, o orgulho de
pertença a uma instituição, a privacidade ou o respeito pela esfera íntima e
pessoal de cada um de nós.
Quanto aos saberes
que considero imprescindíveis numa empresa, poderia sintetizá-los da seguinte
forma: o saber cognitivo que é o que nós chamamos o conhecimento; o saber fazer
que é a capacidade; o saber ser que é a experiência; o saber estar que é o
relacionamento; o saber mudar que é a adaptação (hoje uma sabedoria
fundamental); o saber aprender que é a formação; o saber dar e receber que é a
partilha; o saber comandar que é a liderança; o saber envolver-se que é a
participação; o saber acreditar que é a motivação; o saber rir que é o humor e
o sentido lúdico da vida; e o saber compreender que é a ternura, que também é
uma sabedoria muito importante e às vezes nem sempre abundante.
Na era da
globalização de quase tudo em que hoje vivemos, tudo tem tendência para se
igualizar (técnicas, tecnologias, matérias, capitais, métodos, comunicações,
etc.) excepto... as pessoas, porque as pessoas são o recurso e o bem mais
importante. Toda a gente o diz. Aliás, faz mesmo parte dos discursos oficiais,
mas é curioso constatar que a contabilidade das empresas nem sempre o reflecte
totalmente.
O contributo desta
excelente e oportuna obra não se centra nesse ”evidenciar contabilístico”, mas
para tal poderá contribuir se ajudar a passar esta máxima dos discursos
oficiais para a prática quotidiana. E como o pode fazer? Dando pistas para o
exercício da liderança, enquanto acto fundamental de gestão de pessoas. E sem
nunca perder de vista a sábia reflexão de Paul Valéry: “Um chefe é tão só
uma pessoa que precisa dos outros”.
A pertinência
deste tema assume actualmente grande relevância, face ao novo desafio que
Portugal hoje enfrenta.
Nas últimas
décadas, vivemos uma conjuntura em que economia e emprego se desenvolveram em
função do natural crescimento e expansão dos nossos mercados. Actualmente tal
já não é possível, uma vez que vivemos uma fase de saturação, com mercados a
atingirem o seu patamar de maturidade.
Pela primeira vez
somos assim confrontados com um novo paradigma para o desenvolvimento: o da
competitividade e da rendibilidade. Para haver desenvolvimento já não basta
crescer: é preciso produzir mais com menos consumo de recursos. Para o
conseguir, não basta a tradicional solução de reduzir custos.
É preciso, acima
de tudo, inovar e criar mais valor.
Tal só se consegue
através das pessoas. A ordem material está sempre condicionada à ordem humana.
Humanizar as organizações é pois um imperativo nacional.
Parabéns sinceros
ao Dr. Ricardo Fortes da Costa pela iniciativa de, através desta obra,
contribuir para este imperativo.
Lisboa, Fevereiro
de 2003
Ministro da Segurança Social
e do Trabalho - XV Governo Constitucional