Em artigo anterior vimos como as novas abordagens psicológicas
(Sternberg, 2003) nos permitem trabalhar a aprendizagem para lá da chamada “inteligência clássica”, também
conhecida por inteligência analítica
ou académica, medida tradicionalmente
pelos teste de Quociente de Inteligência (QI). Segundo esta corrente, devemos
trabalhar o projecto educativo através de um adequado balanceamento entre a
nossa inteligência analítica e as outras duas inteligências que os nossos
filhos necessitam de treinar: a) a “inteligência
criativa”, ou seja, a capacidade de encontrar respostas novas para os
problemas; b) a “inteligência prática”,
ou seja, a capacidade de mobilizar recursos e vontades para colocar em prática
uma solução para determinado problema.
Para além desta corrente, também surge como um contributo
particularmente significativo para a educação a Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner, que procura olhar
para a inteligência através das diversas formas de desenvolver competências
(Gardner, 1983, 1999).
Baseando as suas
pesquisas em campos como a Psicologia do Desenvolvimento e a Psicologia
Cognitiva, o autor identifica 7 tipos de
Inteligência:
·
Inteligência Lógico-Matemática: consiste na
capacidade de discernir padrões lógicos e numéricos e na competência para lidar
com longas correntes de raciocínio. Papéis em que este tipo de inteligência
assume grande destaque são os de matemático, engenheiro, cientistas,
programadores e analistas financeiros;
·
Inteligência Linguística: refere-se às
competências verbais e escritas, à capacidade do indivíduo expressar as suas
ideias, escutar e compreender textos, histórias e outras elaborações escritas. Constitui-se
provavelmente como a competência humana mais exaustivamente estudada. Esta
inteligência é exemplificada pelos poetas, que são fortemente sincronizados com
o som e os significados da língua que usam. Jornalistas ou advogados são papéis
igualmente considerados exemplares deste tipo de inteligência;
·
Inteligência Musical: capacidade de criar,
comunicar e compreender significados compostos por sons. A inteligência musical
manifesta-se tipicamente em compositores, maestros e instrumentistas, tal como
em especialistas de acústica e engenheiros de áudio;
·
Inteligência Visual/Espacial: capacidade de
representar e visualizar informações a partir de imagens mentais e raciocínio
espacial. A inteligência espacial não depende da sensação visual, uma vez que
pessoas cegas também a usam para construir imagens mentais das suas casas ou
dos caminhos que usam (Gardner, Kornhaber & Wake, 1998). Para além dos
papéis inerentes ao exercício das artes visuais, também esta inteligência se
destaca habitualmente noutras actividades, como por exemplo as de geógrafo,
cirurgiões ou navegadores;
·
Inteligência Corporal-Kinestésica: capacidade de
usar o corpo, ou partes dele, para ultrapassar uma dificuldade, aprender ou
construir algo. Papéis típicos deste tipo de inteligência são os dos
dançarinos, alpinistas, ginastas e outros atletas de alta competição;
·
Inteligência Interpessoal: diz respeito à
capacidade que uma pessoa tem de compreender intenções, motivações e desejos de
outras pessoas e, consequentemente, de trabalhar eficazmente com os outros. Este
tipo de inteligência é amplamente utilizada por terapeutas, professores,
formadores ou políticos;
·
Inteligência Intrapessoal. refere-se à
compreensão de si mesmo, a saber quem se é, como se reage às coisas, o que
evitar e em torno do que gravitar. Segundo Gardner, esta inteligência
desenvolve-se a partir da capacidade de distinguir o prazer da dor e de agir em
função dessa discriminação. No seu nível mais elevado, as discriminações entre
os sentimentos, intenções e motivações, levam a um profundo autoconhecimento,
que optimiza o processo de tomada de decisão. Esta inteligência permite aos
indivíduos conhecerem as suas próprias capacidades e perceberem a melhor
maneira de as usar;
Os estudos sobre o cérebro demonstram que, embora todas estas
inteligências existam em cada um de nós, cada pessoa apresenta um perfil de inteligências predominantes,
ou seja, todos nós temos algumas inteligências relativamente às quais as nossas
capacidades são melhores.
Estas descobertas vieram enfatizar o
papel da estimulação do meio no desenvolvimento do potencial intelectual, com
destaque para o meio educativo/escolar no desenvolvimento da(s) inteligência(s).
Assim, se ao longo do seu desenvolvimento, a criança tiver oportunidade de
desenvolver actividades associadas às diversas inteligências (e não apenas às
duas primeiras – lógico-matemática e linguística -, associadas ao ensino mais
“tradicional”) está a aumentar a probabilidade do desenvolvimento do seu
potencial cerebral.
Se combinarmos a adequada diversidade de meios para adquirir
competências (Gardner) com a diversificação funcional de actividades de
resolução de problemas (Sternberg), teremos uma framework completa de desenvolvimento para a inteligência plena.
Sobre a articulação entre (mais) estas novas formas de educar através de
uma abordagem positiva do ensino falaremos
oportunamente.
Bibliografia
Gardner, H. (1983). Frames of
mind: The theory of multiple intelligences (2nd ed.). New York: Basic
Books.
Gardner, H. (1998). A Multiplicity of Intelligences. Scientific American(special issue),
19-23.
Gardner, H. (1999). Intelligence
reframed: Multiple intelligences for the 21st century. New York: Basic
Books.
Gardner, H. (2003). Multiple Intelligences After Twenty Years. In A. E. R.
Association (Ed.). Chicago.
Gardner, H., Kornhaber, M. L. & Wake,
W. K. (1998). Inteligência: múltiplas
perspectivas (M. A. V. Veronese, Trans.). Porto Alegre: Artmed.
Sternberg,
R. J. (2003). A Broad View of Intelligence: The Theory of Successful
Intelligence. Consulting Psychology Journal: Practice and Research ,
55, 139-154.
Sternberg,
R. J. & Grigorenko, E. L. (2000). Teaching for Successful Intelligence. Arlington
Heights , IL, Skylight
Sternberg,
R. J. (1997). Successful Intelligence. New York, Plume