O contexto em que
vivemos actualmente é de mudança permanente, em todos os domínios da sociedade.
Em todo o tipo de organizações houve que aprender a lidar com cenários em que,
constantemente, as nossas premissas e convicções são questionadas por uma
evolução cada vez mais permanente. Este constante devir, fruto de uma evolução
tecnológica acelerada e de uma crescente abertura de mercados, conduz-nos a uma
sociedade cada vez mais globalizada, em que tudo o que se passa no mundo nos
pode potencialmente afectar. As sociedades, as organizações e mesmo os cidadãos
têm de passar a funcionar à escala “glocal”, lidando necessariamente com as
exigências da incerteza e da multi-culturalidade (Zheng & Kleiner, 2001). Perante este
quadro de permanente mudança e, consequentemente, elevada competitividade, as organizações,
mas também as pessoas, têm necessidade de se superarem permanentemente. Já não basta responder rapidamente às
exigências do meio envolvente: é imperativo que antecipem as exigências e necessidades do futuro, às quais deverão
responder de forma inovadora e surpreendente.
Considerando que fazer dos nossos filhos pessoas
melhores é a missão mais relevante que temos enquanto seres humanos, muitos de
nós dão por si perante uma enorme angústia: como cumprir este propósito da
melhor forma?
A tendência para um
ensino tendencialmente universal e a pressão para uma vida profissional cada
vez mais preenchida, leva-nos muitas vezes a acomodar-nos em premissas falsas,
mas psicologicamente confortáveis. Uma delas é a de que a missão de educar os nossos filhos compete à escola (pelo que se
escolhermos uma boa escola podemos suspirar de alívio e esperar pelos
resultados, libertando tempo para outras obrigações). Outra é a de que a
educação para os tempos modernos apenas exige
elevada competitividade, um plano curricular completo, variado e exigente (em
que as crianças são pressionadas para a excelência em todos os domínios e de
sol a sol).
Estes dois
pressupostos são falsos: 1) educar é uma missão
partilhada entre vários agentes educativos, sendo que os pais são uma
peça-chave da equação, devendo assegurar a articulação com a escola no acto de
educar e não cedendo a qualquer “economia de atenção” neste domínio; 2) a
preparação para um futuro incerto e competitivo não se consegue através de um aumento do volume de actividades
curriculares e extra-curriculares, sob pena de estarmos a criar “futuros executivos stressados e frustrados”,
em vez de pessoas equilibradas e preparadas para os verdadeiros desafios que
enfrentarão.
E como podem os agentes educativos preparar melhor as
nossas crianças para o futuro? De muitas formas, mas focaremos aqui
apenas uma delas: a forma como desenvolvemos as múltiplas inteligências que (todos) nós temos.
Habitualmente, o
contexto escolar centra-se no desenvolvimento da chamada “inteligência clássica”, também conhecida por inteligência analítica ou académica,
medida tradicionalmente pelos teste de Quociente de Inteligência (QI). Todavia,
este tipo de inteligência, certamente relevante, tem por característica
permitir-nos resolver problemas bem definidos, sobre os quais temos toda a
informação necessária e para o qual só há uma resposta certa (tipicamente os
problemas que aprendemos a resolver na escola). Ora sucede que fora do contexto
escolar as coisas são por vezes diferentes: muitas vezes os problemas com que
nos deparamos não têm uma formulação
precisa, a informação disponível é apenas parcial (ou “digitalmente excessiva”)
e o problema muitas vezes tem mais do que uma resposta certa!
E é para este novo paradigma que a educação formal
(escola) e informal (pais) têm de estar preparados. Como? Sabendo estimular os
outros dois tipos de inteligência (Sternberg, 2003) que os nossos filhos necessitam
de treinar: a) a “inteligência criativa”,
ou seja, a capacidade de encontrar respostas novas para os problemas e a
capacidade de identificar novos problemas para resolver (e isto, mais do que
usar as capacidades declarativas,
implica treinar as capacidades interrogativas,
ou seja, a capacidade de observar, ter juízo crítico e fazer boas perguntas!); b) a “inteligência prática”, ou seja, a
capacidade de mobilizar recursos e vontades para colocar em prática uma solução
para determinado problema (o que exige boa gestão
emocional, resiliência, iniciativa e competências sociais). Significa
isto que estudar é insuficiente? Sim.
É preciso saber estudar em grupo, produzir colectivamente, ter espaço para
pensar e experimentar e tolerar a frustração e a diferença. É preciso conviver
e brincar também, e tudo isto com professores e pais. Sobre estas novas formas
de educar falaremos oportunamente.
Bibliografia
Sternberg, R. J. (2003). A Broad
View of Intelligence: The Theory of Successful Intelligence. Consulting
Psychology Journal: Practice and Research , 55, 139-154.
Zheng, A. Y., & Kleiner, C. H.
(2001). Developments concerning career development and transition. Management
Research News , 33-39.